quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Enterrei Amy Winehouse na Doutor Virgílio de Carvalho Pinto


Obra de Vera Fraga Leslie


Centro Cultural O B_Arco, quinta-feira, 17/11/2011, fui no lançamento do livro “Santos de Vento”, de minha amiga Celina Castro dentro da programação oficial da Balada Cultural.

Na mesma hora e no mesmo lugar: Miró, Marcelino Freyre, Arrigo Barnabé, Laerte e Cida Moreira. E, de brinde, uma exposição bacanésima da artista plástica Vera Fraga Leslie. Era de se esperar que algo mágico estivesse para acontecer. Momentos raros em que deixo de amaldiçoar essa bendita cidade que me pariu para reverenciar a maldita.

Tudo lindo mas dentro dos conformes até que a Cida Moreira senta-se ao piano. Reouvir os versos do sempre bom e jovem Gonzaguinha, “Com tempo ruim todo mundo também dá bom-dia” na voz e técnica perfeita de Cida, já valeria a noite. Mas ela guardava o melhor pro final.

Quando rasgou no ar “He left no time to regret” (ele não me deu tempo para me lamentar), comecei a chorar. Depois de quatro meses de sua morte, pela primeira vez chorei por Amy.

Eu era ainda um adolescente quando chorei pela morte de alguns de meus artistas preferidos: Lennon, Elis, Gonzaguinha. “I died a hundred times” (eu morri uma centena de vezes). Muitos outros tão geniais quanto estes ou Amy partiram ao longo dos anos, mas nunca mais chorei por eles. “We only said goodbye with word”s (apenas dissemos adeus com palavras)

Mas na quinta-feira, 17/11/2011, 21H45M, na Doutor Virgílio de Carvalho Pinto, debaixo da escadaria da Teodoro Sampaio, enterrei Amy Winehouse e chorei.

Cida Moreira repetia e repetia “I go back to black, black, black...” E eu chorava por Amy.

And life is like a pipe and I'm a tiny penny rolling up the walls inside
a vida é um cano e eu sou uma moeda rolando dentro das paredes
a vida é um sopro e eu sou o canto que vem de algum lugar detrás das paredes
eu sou o vento preso nos cantos das paredes
a vida é um jogo e eu a moeda rolando em cima da mesa
a vida é vento, eu a fumaça do cachimbo rolando e rolando e rolando...

Um comentário:

André Diaz disse...

Pode chorar, Paulo! Vc pode! Vc é artista!