domingo, 20 de novembro de 2011

Balada Libertária: Geni Guimarães, Sérgio Vaz e Miró


Balada Libertária:
Sérgio Vaz, Miró, Geni Guimarães e Marcelino Freire


Miró:

"Minha mãe sempre quis que eu escrevesse um poema sobre Deus.
Um dia, liguei pra ela:
- Mãe, fiz um poema sobre Deus!
- Me diz.
- "Deus é grande / e o diabo tem um metro e oitenta"

Uma vez ligaram pra ela:
- Seu filho tá famoso, saiu na Globo. Ela tá bem?
- Bem nada, ele tá liso!

O Ignácio de Loyola me disse:
- Quer viver bem em São Paulo?
- Quero.
- Então não olha na cara de ninguém!

Eu escrevo sobre o que vejo. "


Geni Guimarães:

"Eu comecei lendo jornal.

Ou eu taco um poema na cara da pessoa, ou eu taco a mão.
Escrevi um livro como resposta. Já fiz muita coisa
por vingança.

No meu tempo era primário, hoje é ensino fundamental.
Inventam palavras novas e bonitas pra não dizer que o ensino hoje
é muito pior que na nossa época.

Segundo os médicos e psicólogos, foi a minha literatura que matou
o meu marido.

Demorei para voltar a escrever porque tinha medo de estar
matando ele novamente."


Sérgio Vaz:

"Sou poeta por covardia. Sou da Zona Sul na época em que chegaram a
morrer 52 pessoas assassinadas em um fim de semana. Como não tenho
coragem de matar alguém, escrevo poesia.

A dívida que esse país tem com a gente e não paga, eu cobro.

A eternidade sempre me pareceu coisa de gente que
tem preguiça de viver.

- O que que vai ter aqui?
- Teatro.
- O teato vem aqui?
- Vem.
- Então espera aí que eu vou buscar minha mulher e volto.
Ele voltou com a mulher e sentou no cantinho.
Durante a peça, a mulher ria aquele riso represado por anos, enquanto ele ficava
meio que rindo como quem tomou um rabo-de-galo.
Em momento assim, sinto que vale a pena. Aquele casal talvez
nunca tivesse a chance de ir a um teatro se não fosse a gente."

A Balada Libertária e A Exumação da Vanguarda Paulista

Sarau do Esquisito na Praça Benedito Calixto


Sim, eu sei, sou o primeiro a dizer, já perdi amigos por insistir:
São Paulo é um saco!
Não troco esta cidade por nada! — Você responde.
— Tô trocando até por figurinha repetida...
— São tantas opções culturais! — Você insiste.
— Nas quais a gente não vai...
— Porque não quer!
— Porque não quero pagar flanelinha, pegar trânsito, ter a carteira batida, comprar ingresso falso de cambista, pagar mais do que a comida vale, ouvir conversa de gente metida na fila...
— Você é que é um saco! — Você desiste.
— Sou, confesso, um saco, chato e velho... E show da Britney Spears não é opção cultural…
Mas me rendo à única cidade do mundo onde a Balada Lietrária poderia acontecer. A Balada Liertária sim é opção cultural: A programação é tão intensa que não consigo acompanhar tudo, a ranzinzice de meu corpo não permite, mas é impossível se arrepender de qualquer programa escolhido.
Depois de enterrar a Amy, (vide crônica anterior) ontem tive o prazer de comparecer à cerimônia de exumação da Vanguarda Paulistana.
13:00, indo para o excelente Sarau do Esquisito, de Pernambuco, na Praça Benedito Calixto, descubro que o Lira Paulistana virou x-salada... A cidade não para.
22:00, sob às benção da Rainha Elizabete em um taiuller rosa que mataria a falecida Roseane Collor de inveja, André Sant’Anna, Helô Ribeiro e Vanessa Bugmany, sobem ao palco da Casa das Rosas para uma viagem litero-musical digna dos melhores momentos de Arrigo Barnabé.
Marcelo Mirisola, a Família Real Britânica, Brian Jones, os Três Porquinhos e o Lobo Mau no lugar do Coroa no Maverick de Acapulco Drive-in, do Moleque Bêbado de Diversões Eletrônicas, do Office Boy Durango.
Claro, a viagem de Arrigo era muito mais musical, a viagem de André é muito mais literária, mas o que importa é o resultado: pedras rolando com inteligência.
Hoje também chorei — de rir — quando André leu a carta de um menininho explicando porque Deus o ama e à sua irmãzinha que comem carne, e porque não ama a vaca que lhes dá sustento.

Pernambucanos, cariocas, mineiros, paulistas, tudo junto e misturado no liquidificador da lanchonete que funciona o nº 1091 da Teodoro Sampaio. É a Balada Libertária.

André Sant'Anna, Helô Ribeiro, Vanessa Bugmany, a banda "Sons e Furyas" na Casa das Rosas

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Enterrei Amy Winehouse na Doutor Virgílio de Carvalho Pinto


Obra de Vera Fraga Leslie


Centro Cultural O B_Arco, quinta-feira, 17/11/2011, fui no lançamento do livro “Santos de Vento”, de minha amiga Celina Castro dentro da programação oficial da Balada Cultural.

Na mesma hora e no mesmo lugar: Miró, Marcelino Freyre, Arrigo Barnabé, Laerte e Cida Moreira. E, de brinde, uma exposição bacanésima da artista plástica Vera Fraga Leslie. Era de se esperar que algo mágico estivesse para acontecer. Momentos raros em que deixo de amaldiçoar essa bendita cidade que me pariu para reverenciar a maldita.

Tudo lindo mas dentro dos conformes até que a Cida Moreira senta-se ao piano. Reouvir os versos do sempre bom e jovem Gonzaguinha, “Com tempo ruim todo mundo também dá bom-dia” na voz e técnica perfeita de Cida, já valeria a noite. Mas ela guardava o melhor pro final.

Quando rasgou no ar “He left no time to regret” (ele não me deu tempo para me lamentar), comecei a chorar. Depois de quatro meses de sua morte, pela primeira vez chorei por Amy.

Eu era ainda um adolescente quando chorei pela morte de alguns de meus artistas preferidos: Lennon, Elis, Gonzaguinha. “I died a hundred times” (eu morri uma centena de vezes). Muitos outros tão geniais quanto estes ou Amy partiram ao longo dos anos, mas nunca mais chorei por eles. “We only said goodbye with word”s (apenas dissemos adeus com palavras)

Mas na quinta-feira, 17/11/2011, 21H45M, na Doutor Virgílio de Carvalho Pinto, debaixo da escadaria da Teodoro Sampaio, enterrei Amy Winehouse e chorei.

Cida Moreira repetia e repetia “I go back to black, black, black...” E eu chorava por Amy.

And life is like a pipe and I'm a tiny penny rolling up the walls inside
a vida é um cano e eu sou uma moeda rolando dentro das paredes
a vida é um sopro e eu sou o canto que vem de algum lugar detrás das paredes
eu sou o vento preso nos cantos das paredes
a vida é um jogo e eu a moeda rolando em cima da mesa
a vida é vento, eu a fumaça do cachimbo rolando e rolando e rolando...