domingo, 4 de dezembro de 2011

Derrubaram a casa do lado da Casa das Rosas

Foto: Paulo D'Auria

Derrubaram a casa do lado da Casa das Rosas,
a casa prosa
onde funcionava a Porto Seguro.
E ninguém chora, ninguém ora
ninguém nem... Oras bolas!

Você vem me dizer que não se chora por casas
em uma cidade onde crianças dormem nas ruas,
mas, pra mim, é tudo parte de um mesmo todo,
da mesma cobra que morde o próprio rabo.

Em São Paulo é a cobra que mostra o pau.
São Paulo rata, ROTA, arrota na rua!

Derrubaram a casa do lado da Casa das Rosas,
a casa prosa...
Mas num era um porto-seguro?

Em São Paulo nenhum passado está seguro.
São Paulo adula a falta de cultura,
São Paulo adora a fartura.
São Paulo é a cobra que morde o próprio rabo.

domingo, 20 de novembro de 2011

Balada Libertária: Geni Guimarães, Sérgio Vaz e Miró


Balada Libertária:
Sérgio Vaz, Miró, Geni Guimarães e Marcelino Freire


Miró:

"Minha mãe sempre quis que eu escrevesse um poema sobre Deus.
Um dia, liguei pra ela:
- Mãe, fiz um poema sobre Deus!
- Me diz.
- "Deus é grande / e o diabo tem um metro e oitenta"

Uma vez ligaram pra ela:
- Seu filho tá famoso, saiu na Globo. Ela tá bem?
- Bem nada, ele tá liso!

O Ignácio de Loyola me disse:
- Quer viver bem em São Paulo?
- Quero.
- Então não olha na cara de ninguém!

Eu escrevo sobre o que vejo. "


Geni Guimarães:

"Eu comecei lendo jornal.

Ou eu taco um poema na cara da pessoa, ou eu taco a mão.
Escrevi um livro como resposta. Já fiz muita coisa
por vingança.

No meu tempo era primário, hoje é ensino fundamental.
Inventam palavras novas e bonitas pra não dizer que o ensino hoje
é muito pior que na nossa época.

Segundo os médicos e psicólogos, foi a minha literatura que matou
o meu marido.

Demorei para voltar a escrever porque tinha medo de estar
matando ele novamente."


Sérgio Vaz:

"Sou poeta por covardia. Sou da Zona Sul na época em que chegaram a
morrer 52 pessoas assassinadas em um fim de semana. Como não tenho
coragem de matar alguém, escrevo poesia.

A dívida que esse país tem com a gente e não paga, eu cobro.

A eternidade sempre me pareceu coisa de gente que
tem preguiça de viver.

- O que que vai ter aqui?
- Teatro.
- O teato vem aqui?
- Vem.
- Então espera aí que eu vou buscar minha mulher e volto.
Ele voltou com a mulher e sentou no cantinho.
Durante a peça, a mulher ria aquele riso represado por anos, enquanto ele ficava
meio que rindo como quem tomou um rabo-de-galo.
Em momento assim, sinto que vale a pena. Aquele casal talvez
nunca tivesse a chance de ir a um teatro se não fosse a gente."

A Balada Libertária e A Exumação da Vanguarda Paulista

Sarau do Esquisito na Praça Benedito Calixto


Sim, eu sei, sou o primeiro a dizer, já perdi amigos por insistir:
São Paulo é um saco!
Não troco esta cidade por nada! — Você responde.
— Tô trocando até por figurinha repetida...
— São tantas opções culturais! — Você insiste.
— Nas quais a gente não vai...
— Porque não quer!
— Porque não quero pagar flanelinha, pegar trânsito, ter a carteira batida, comprar ingresso falso de cambista, pagar mais do que a comida vale, ouvir conversa de gente metida na fila...
— Você é que é um saco! — Você desiste.
— Sou, confesso, um saco, chato e velho... E show da Britney Spears não é opção cultural…
Mas me rendo à única cidade do mundo onde a Balada Lietrária poderia acontecer. A Balada Liertária sim é opção cultural: A programação é tão intensa que não consigo acompanhar tudo, a ranzinzice de meu corpo não permite, mas é impossível se arrepender de qualquer programa escolhido.
Depois de enterrar a Amy, (vide crônica anterior) ontem tive o prazer de comparecer à cerimônia de exumação da Vanguarda Paulistana.
13:00, indo para o excelente Sarau do Esquisito, de Pernambuco, na Praça Benedito Calixto, descubro que o Lira Paulistana virou x-salada... A cidade não para.
22:00, sob às benção da Rainha Elizabete em um taiuller rosa que mataria a falecida Roseane Collor de inveja, André Sant’Anna, Helô Ribeiro e Vanessa Bugmany, sobem ao palco da Casa das Rosas para uma viagem litero-musical digna dos melhores momentos de Arrigo Barnabé.
Marcelo Mirisola, a Família Real Britânica, Brian Jones, os Três Porquinhos e o Lobo Mau no lugar do Coroa no Maverick de Acapulco Drive-in, do Moleque Bêbado de Diversões Eletrônicas, do Office Boy Durango.
Claro, a viagem de Arrigo era muito mais musical, a viagem de André é muito mais literária, mas o que importa é o resultado: pedras rolando com inteligência.
Hoje também chorei — de rir — quando André leu a carta de um menininho explicando porque Deus o ama e à sua irmãzinha que comem carne, e porque não ama a vaca que lhes dá sustento.

Pernambucanos, cariocas, mineiros, paulistas, tudo junto e misturado no liquidificador da lanchonete que funciona o nº 1091 da Teodoro Sampaio. É a Balada Libertária.

André Sant'Anna, Helô Ribeiro, Vanessa Bugmany, a banda "Sons e Furyas" na Casa das Rosas

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Enterrei Amy Winehouse na Doutor Virgílio de Carvalho Pinto


Obra de Vera Fraga Leslie


Centro Cultural O B_Arco, quinta-feira, 17/11/2011, fui no lançamento do livro “Santos de Vento”, de minha amiga Celina Castro dentro da programação oficial da Balada Cultural.

Na mesma hora e no mesmo lugar: Miró, Marcelino Freyre, Arrigo Barnabé, Laerte e Cida Moreira. E, de brinde, uma exposição bacanésima da artista plástica Vera Fraga Leslie. Era de se esperar que algo mágico estivesse para acontecer. Momentos raros em que deixo de amaldiçoar essa bendita cidade que me pariu para reverenciar a maldita.

Tudo lindo mas dentro dos conformes até que a Cida Moreira senta-se ao piano. Reouvir os versos do sempre bom e jovem Gonzaguinha, “Com tempo ruim todo mundo também dá bom-dia” na voz e técnica perfeita de Cida, já valeria a noite. Mas ela guardava o melhor pro final.

Quando rasgou no ar “He left no time to regret” (ele não me deu tempo para me lamentar), comecei a chorar. Depois de quatro meses de sua morte, pela primeira vez chorei por Amy.

Eu era ainda um adolescente quando chorei pela morte de alguns de meus artistas preferidos: Lennon, Elis, Gonzaguinha. “I died a hundred times” (eu morri uma centena de vezes). Muitos outros tão geniais quanto estes ou Amy partiram ao longo dos anos, mas nunca mais chorei por eles. “We only said goodbye with word”s (apenas dissemos adeus com palavras)

Mas na quinta-feira, 17/11/2011, 21H45M, na Doutor Virgílio de Carvalho Pinto, debaixo da escadaria da Teodoro Sampaio, enterrei Amy Winehouse e chorei.

Cida Moreira repetia e repetia “I go back to black, black, black...” E eu chorava por Amy.

And life is like a pipe and I'm a tiny penny rolling up the walls inside
a vida é um cano e eu sou uma moeda rolando dentro das paredes
a vida é um sopro e eu sou o canto que vem de algum lugar detrás das paredes
eu sou o vento preso nos cantos das paredes
a vida é um jogo e eu a moeda rolando em cima da mesa
a vida é vento, eu a fumaça do cachimbo rolando e rolando e rolando...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Prefeito bomba


Eu já tô de saco cheio do Kassab! Afinal, ontem o shopping ia explodir, hoje não vai mais?
De todas as bizarrices políticas que o paulistano já produziu (Jânio, Maluf, Pitta etc) esse Kassab é o mais exibido. Não perde uma chance de aparecer na mídia.
Já teve a Lei Cidade Facista, digo Limpa, que o paulistano a-do-rou! Queria ver o Kassab mandando tirar os luminosos da Times Square ou de Tóquio. Só o paulistano mesmo pra aprovar uma lei estúpida como esta.
Já teve a Lei Cidade Despoluída. Ah, não! Claro que não, a cidade continua com o mesmo ar irrespirável de sempre, mas o motorista tá pagando 50 reais pro tal do Controlar fazer não sei o quê.
Teve a Lei é Proibido Fumar. Dessa não gosto nem de falar, pois é unanimidade. Todo paulistano, do mais malufista ao mais moderninho, dão uivinhos de alegria e aprovação. Já dizia Nelsão Rodigues, “Toda unanimidade é burra”. Pra mim não passa da Lei Cidade Facista II.
Proibir, meus amigos, é fácil. Qualquer um proíbe qualquer um de fazer qualquer coisa. E depois manda a fiscalização arrecadar as multas. O duro é botar político pra trabalhar. Fazer alguma coisa de realmente útil para esta cidade.
Se fizessem uma lei que obrigasse o político a gastar metade do tempo que gasta pensando em como fazer para aparecer, trabalhando. Aí sim esse país saia do buraco!
Por que o Kassab não proíbe os ladrões de roubar, os assassinos de matar e os sequestradores de sequestrar?
Até proibir os feirantes de gritar “Moça bonita não paga, mas também não leva!” essa político-oportunista-tipicamente-paulistano já proibiu.
Agora inventou essa história do shopping pra aparecer.
Ia explodir, não vai mais. Fecha-abre-fecha.
E agora? Se explodir de verdade, o cara foi omisso ao permitir a reabertura. Se não explodir fica provado que era só show de marketing.
Show de marketing pago com o prejuízo dos lojistas. A Americanas, a C&A, o Cinemark que se danem! Mas e o dono do quiosque de pastel, e a tia do quiosque de café, o joão do quiosque de jornais? Quem paga o prejuízo deles com a queda de movimento que vão amargar depois de toda essa exposição negativa?
Quem sabia das coisas era o Pelé, que dizia que o brasileiro não sabia votar...
Pena que não fazem mais aquelas cédulas de papel, onde a gente escrevia o que queria...
Mané por mané, nas próximas eleições eu votava no Pelé!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Coisa de Paulista...
















Noticia publicada hoje pela Folha.Com... No coments...
Câmara de SP aprova criação do Dia do Orgulho Heterossexual
JOSÉ BENEDITO DA SILVA - DE SÃO PAULO

A Câmara de São Paulo aprovou nesta terça-feira projeto de lei do vereador Carlos Apolinario (DEM) que cria o Dia do Orgulho Heterossexual, a ser comemorado no terceiro domingo de dezembro.
Segundo Apolinario, que é ligado a igrejas evangélicas, a data tem o objetivo de "conscientizar e estimular a população a resguardar a moral e os bons costumes".
Apolinario apresentou o projeto em 2005, mas, desde então, só havia conseguido aprová-lo em primeira votação, em 2007. Ele voltou a tentar a aprovação antes da Parada Gay deste ano, em junho, mas não conseguiu.
Para que a data entre no calendário oficial do município é preciso que ela seja sancionada pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD).
Não houve votação nominal --dos 39 vereadores presentes, 18 se manifestaram contra o projeto: os 11 do PT, os dois do PCdoB, Claudio Fonseca (PDT), Claudio Prado (PPS), Gilberto Natalini (sem partido), Juscelino Gadelha (sem partido), Eliseu Gabriel (PSB) e o líder de Kassab, Roberto Tripoli (PV).

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Levantando e abaixando cancelas

São Paulo, 25/05/2011, 18h:45m.
Vindo pela Marginal Tietê sentido oeste-leste, pouco antes da Ponte do Piqueri deparo-me com um grande painel luminoso com as letras CET acesas, bem ao estilo George Orwell.
Ainda estou tentando atinar com o sentido dessa propaganda estatal despropositada quando, desavisadamente, tento entrar na Ponte do Piqueri... Bobinho que sou, havia me esquecido que essa mesma CET, também conhecida como Companhia de Emburrecimento do Tráfego, fecha a alça da acesso dessa ponte todos os dias das 17:00h às 20:00h.
Resultado: um trânsito infernal nas ruas adjacentes por onde os motoristas são obrigados a desviar.
Pensando que talvez faça melhor negócio, sigo até a Ponte da Freguesia, mas, como era de se esperar, não sou o único a pensar assim. A Marginal para a pelo menos 500 metros da ponte, e, na alça de acesso então, a confusão e o pega-pra-capar é total.
O único agente do CET no local não tira os olhos de seu caderninho, preocupado em não deixar escapar uma multa de rodízio que seja...
Não tem jeito, se você é morador de Pirituba ou da Freguesia do Ó como eu, e chega em casa no horário do rush, parece que vai continuar à mercê das boas ideias da CET por muito tempo... A Marginal acabou de ser ampliada, às pressas é claro, pra tentar eleger o Serra presidente, mas ninguém pensou que esses dois bairros cresceram enormemente nos últimos 30 anos e que essas duas pontes apenas não comportam mais o afluxo de carros?
Por que novas pontes só são feitas em bairros de maior visibilidade, por acaso o trânsito da cidade é um problema político-eleitoreiro?
Por que essa malfadada "zona noroeste" que sequer existe no mapa da cidade amarga três décadas de crescimento sem investimento público que lhe sustente?
Basta um prefeito minimamente inteligente abrir um mapa e perceber que se temos Av. Raimundo Pereira de Magalhães dos dois lados do rio, talvez fosse o caso de ter uma ponte que ligasse essas duas pontas soltas.
Se temos Av. Santa Marina dos dois lados do rio, idem.
Subir e descer cancelas nas duas pontes existentes desde os anos 60, quando nenhum dos dois bairros servidos por ela tinha um prédio de apartamentos, não vai resolver nossos problemas!

PS.: Saindo de férias, vou pastar noutras bandas, só volto a pastar por aqui em meados de julho.