Sérgio Vaz, Miró, Geni Guimarães e Marcelino Freire
Miró:
"Minha mãe sempre quis que eu escrevesse um poema sobre Deus.
Um dia, liguei pra ela:
- Mãe, fiz um poema sobre Deus!
- Me diz.
- "Deus é grande / e o diabo tem um metro e oitenta"
- "Deus é grande / e o diabo tem um metro e oitenta"
Uma vez ligaram pra ela:
- Seu filho tá famoso, saiu na Globo. Ela tá bem?
- Seu filho tá famoso, saiu na Globo. Ela tá bem?
- Bem nada, ele tá liso!
O Ignácio de Loyola me disse:
- Quer viver bem em São Paulo?
- Quer viver bem em São Paulo?
- Quero.
- Então não olha na cara de ninguém!
- Então não olha na cara de ninguém!
Eu escrevo sobre o que vejo. "
Geni Guimarães:
"Eu comecei lendo jornal.
Ou eu taco um poema na cara da pessoa, ou eu taco a mão.
Escrevi um livro como resposta. Já fiz muita coisa
por vingança.
Escrevi um livro como resposta. Já fiz muita coisa
por vingança.
No meu tempo era primário, hoje é ensino fundamental.
Inventam palavras novas e bonitas pra não dizer que o ensino hoje
é muito pior que na nossa época.
Inventam palavras novas e bonitas pra não dizer que o ensino hoje
é muito pior que na nossa época.
Segundo os médicos e psicólogos, foi a minha literatura que matou
o meu marido.
o meu marido.
Demorei para voltar a escrever porque tinha medo de estar
matando ele novamente."
matando ele novamente."
Sérgio Vaz:
"Sou poeta por covardia. Sou da Zona Sul na época em que chegaram a
morrer 52 pessoas assassinadas em um fim de semana. Como não tenho
coragem de matar alguém, escrevo poesia.
morrer 52 pessoas assassinadas em um fim de semana. Como não tenho
coragem de matar alguém, escrevo poesia.
A dívida que esse país tem com a gente e não paga, eu cobro.
A eternidade sempre me pareceu coisa de gente que
tem preguiça de viver.
- O que que vai ter aqui?
- Teatro.
- O teato vem aqui?
- Vem.
tem preguiça de viver.
- O que que vai ter aqui?
- Teatro.
- O teato vem aqui?
- Vem.
- Então espera aí que eu vou buscar minha mulher e volto.
Ele voltou com a mulher e sentou no cantinho.
Durante a peça, a mulher ria aquele riso represado por anos, enquanto ele ficava
meio que rindo como quem tomou um rabo-de-galo.
Ele voltou com a mulher e sentou no cantinho.
Durante a peça, a mulher ria aquele riso represado por anos, enquanto ele ficava
meio que rindo como quem tomou um rabo-de-galo.
Em momento assim, sinto que vale a pena. Aquele casal talvez
nunca tivesse a chance de ir a um teatro se não fosse a gente."
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